domingo, 28 de janeiro de 2018

MÃE CONGA

Maria Conga é um espírito desencarnado (preta-velha) que incorpora em médiuns dentro dos rituais umbandistas. Cenas de exaustivo trabalho em plantações de cana. É nisso que Vovó Maria Conga parece estar constantemente envolvida. Gosta de doces, cocada branca em especial, mas não dá demonstrações de ter sido esta sua principal ocupação na encarnação como escrava. Sentada em um toco de madeira no terreiro contou, certa vez, alguns fatos de sua vida em terra brasileira. Começou dizendo que só o fato de podermos conviver com nossos filhos é uma grande dádiva. Naquele tempo as negras eram destinadas, entre outras coisas, a procriar, a gerar filhos que delas eram afastados muito cedo, até mesmo antes de serem desmamados. Outras negras alimentavam sua cria, assim como tantos outros ?filhotes? foram alimentados pela Mãe Conga. Quase todas as mulheres escravas se transformavam em mães; cuidavam das crianças que chegavam à fazenda, rezando para que seus próprios filhos também encontrassem alento aonde quer que estivessem. Os orixás africanos, desempenhavam papel fundamental nesta época. Diferentes nações africanas que antes guerreavam, foram obrigadas a se unir na defesa da raça e todos os orixás passaram a trabalhar para todo o povo negro. As mães tomavam conhecimento do destino de seus filhos através das mensagens dos orixás. Eram eles que pediam oferendas em momentos difíceis e era a eles que todos recorriam para afastar a dor. Maria Conga teve que se utilizar de algumas ?mirongas? para deixar de ser uma reprodutora, e assim, pelo fato de ainda ser uma mulher forte, restou-lhe a plantação de cana. A colheita era sempre motivo para muito trabalho e uma espécie de algazarra contagiava o lugar.
Enquanto as mulheres cortavam a cana, as crianças, em total rebuliço, arrumavam os fardos para que os homens os carregassem até o local indicado pelo feitor. Foi numa dessas ocasiões que Maria Conga soube que um dos seus filhos, afastado dela quando já sabia andar e falar, era homem forte, trabalhando numa fazenda próxima. Seu coração transbordou de alegria e nada poderia dissuadi-la da idéia de revê-lo. Passou então a escapar da fazenda, correndo de sol a sol, para admirar a beleza daquele forte negro. Nas primeiras vezes não teve meios de falar com ele, mas os orixás ouviram suas súplicas e não tardou para que os dois pudessem se abraçar e derramar as lágrimas por tanto tempo contidas. Parecia a ela que eles nunca tinham se afastado, pois o amor os mantivera unidos por todo o tempo. Certa tarde, quase chegando na senzala, a negra foi descoberta. Apanhou bastante, mas não deixou de escapar novamente para reencontrar seu filho. Mais uma vez os brancos a pegaram na fuga, e como ela ainda insistisse uma terceira vez resolveram encerrar a questão: queimaram sua perna direita, um pouco acima da canela, para que ela não mais pudesse correr. Impossibilitada de ver o filho, com menor capacidade de trabalho, a Vó Maria Conga passou a cuidar das crianças negras e de seus doentes. Seu coração se encheu de tristeza ao saber que haviam matado seu filho quando tentava fugir para vê-la. Sua vida mudou. De alegre e tagarela passou a ser muito séria, cuidando do que falava até mesmo com os outros negros. Para as crianças contava histórias de reis negros em terras negras, onde não havia outro senhor. Sábia, experiente e calada, Vovó Maria Conga desencarnou. Com lágrimas na alma ela acabou seu conto. Disse que só entendeu a medida do amor após a sua morte. Seu filho a esperava sorrindo, guardião que fora da mãe o tempo todo em que aguardava seu retorno ao mundo dos espíritos.

VOVÓ CATARINA

Os tambores tocavam o ritmo cadenciado dos Orixás, e nós dançávamos.
Dançávamos todos em volta da fogueira improvisada ou à luz de tochas ou
velas de cera que fazíamos. A comida era pouca, mas para passar a fome nós
dançávamos a dança dos Orixás. E assim, ao som dos tambores de nosso povo,
nos divertíamos, para não morrer de tristeza e sofrimento. Eu era chamada de
feiticeira. Mas eu não era feiticeira, era curandeira. Entendia de ervas,
com as quais fazia remédios para o meu povo, e de parto; eu era a parteira
do povo de Angola, que estava errando naquela terra de meu Deus. Até que
Sinhazinha me tirou do meu povo. Ela não queria que eu usasse meus
conhecimentos para curar os negros, somente os brancos; afinal, negro –
dizia ela – tinha que trabalhar e trabalhar até morrer. Depois, era só
substituir por outro. Mas Dona Moça não pensava assim. Ela gostava de mim, e
eu, dela. Fui jogada num canto, separada dos outros escravos, e todas as
noites eu chorava ao saber que meu povo sofria e eu não podia fazer nada
para ajudar. De dia eu descascava coco e moía café no pilão. À noite eu
cantava sozinha, solitária. E ouvia o cantar triste de meu povo, de longe.
Ouvia o lamento dos negros de Angola pedindo a Oxalá a liberdade, que só
depois nós entendemos o que era. E os tambores tocavam o seu lamento triste,
o seu toque cadenciado, enquanto eu respondia de meu cativeiro com as rezas
dos meus Orixás. A liberdade, que era cantada por todos do cativeiro, só
mais tarde é que nós a compreendemos. A liberdade era de dentro, e não de fora.
Aqueles eram dias difíceis, e nós aprendemos com os cânticos de Oxóssi e as
armas de Ogum o que era se humilhar, sofrer e servir, até que nosso espírito
estivesse acostumado tanto ao sofrimento e a servir sem discutir, sem nada
obter em troca, que, a um simples sinal de dor ou qualquer necessidade, nós
estávamos ali, prontos para servir, preparados para trabalhar. E nosso Pai
Oxalá nos ensinou, em meio aos toques dos tambores na senzala ou aos
chicotes do capitão, que é mais proveitoso servir e sofrer do que ser
servido e provocar a infelicidade dos outros.
Um dia, vítima do desespero de Sinhá, eu fui levada à noite para o tronco,
enquanto meus irmãos na senzala cantavam. A cada toque mais forte dos
tambores, eu recebia uma chibatada, até que, desfalecendo, fui conduzida nos
braços de Oxalá para o reino de Aruanda. Meu corpo, na verdade, estava
morto, mas eu estava livre, no meio das estrelas de Aruanda. Em meu espírito
não restou nenhum rancor, mas apenas um profundo agradecimento aos meus
antigos senhores, por me ensinar, com o suor e o sofrimento, que mais
compensa ser bom do que mau; sofrer cumprindo nosso dever do que sorrir na
ilusão; trabalhar pelo bem de todos do que servir de tropeço. Eu era agora
liberta, e nenhum chicote, nenhuma senzala poderia me prender, porque agora
eu poderia ouvir por todo lado o barulho dos tambores de Angola, mas também
do Kêtu, de Luanda, de Jêje e de todo lugar. Em meio às estrelas de Aruanda
eu rezava. Rezava agradecida ao meu Pai Oxalá.
Fui pra Aruanda, lugar de muita paz! Mas eu retomei. Pedi a meu Pai Oxalá
que desse oportunidade pra eu voltar ao Brasil pra poder ajudar a Sinhá,
pois ela me ensinou muita coisa com o jeito dela nos tratar. E eu voltei.
Agora as coisas pareciam mudadas. Eu não era aquela nega feia e escrava. Era
filha de gente grande e bonita, sabia ler e ensinava crianças dos outros. Um
dia bateu na minha porta um homem com uma menina enjeitada da mãe. Era muito
esquisita, doente e trazia nela o mal da lepra. Tadinha! Não tinha pra onde
ir, e o pai desesperado não sabia o que fazer. Adotei a pobre coitada, fui
tratando aos poucos e, quando me casei, levei a menina comigo. Cresceu, deu
problema, mas eu a amava muito. Até que um dia ela veio a desencarnar em
meus braços, de um jeito que fazia dó. Quando eu retomei pra Aruanda, o que
vocês chamam de plano espiritual, ela veio me receber com os braços abertos
e chorando muito, muito mesmo. Perguntei por que chorava, se nós duas agora
estávamos livres do sofrimento da carne, então, ela, transformando-se em
minha frente, assumiu a feição de Sinhazinha! Ela era a minha Sinhá do tempo
do cativeiro. E nós duas nos abraçamos e choramos juntas. Hoje, trabalhamos
nas falanges da Umbanda, com a esperança de passar a nossa experiência pra
muitos que ainda se encontram perdidos em suas dificuldades.

MÃE BENTA

Negra esbelta, de sorriso sorrateiro e conquistador, de requebrado insinuante, andava pelo casarão deixando no ar o cheiro do manjericão. Cantarolando, sempre faceira atiçava o desejo, nos negros e também nos brancos. Não passou despercebida do olhar do patrão, sinhozinho cujos dotes de beleza também assanhavam aquela negrinha. E assim, depois de uma primeira vez, foi inevitável que todas as noites ele a procurasse na senzala. Não era só um desejo, mas além do corpo que ardia ao vê-la, seu coração estava emaranhado num sentimento ao qual ele negava.
Foram anos de encontros furtivos, aos quais a sinhazinha fingia não ver. E muitos abortos, num dos quais a negrinha desencarnou.
Haveria de renascer em muito pouco tempo no mesmo lugar. Negrinha doente, que sobreviveu à morte da mãe no parto. Muito cedo aprendeu a benzer e ali estava uma negra curandeira. Parteira requisitada, não tinha hora para atender, até o dia em que, para salvar uma escrava das mãos do feitor, levou uma paulada nas costas e aleijou. Andou o resto de sua vida agachada e com fortes dores, mas nem por isso deixava de salvar vidas. Desencarnou cega e arqueada, porém feliz.
Mas havia muito a ressarcir na contabilidade do céu. Por isso, juntou-se às bandas de Aruanda e como preta velha desce à crosta para ajudar a curar e aconselhar. Precisou de um aparelho cujo comprometimento fosse adequado às suas energias, para que juntas possam aprender que é curando as feridas alheias, que as nossas cicatrizam.
De galho verde na mão e muito amor no coração, Vó Benta visita seu aparelhinho, baixando-lhe as costas e transferindo um pouco da dor que sentiu na carne para que este saiba que a humildade se faz necessária. Seu alvo avental, ao final do trabalho está sempre cheio de nós, que ela faz, para desfazer aqueles que os filhos de fé trazem até ali. No final da noite, junta-se aos irmãos e volta para Aruanda, até que a próxima lua a traga novamente cantando:
Vem chegando Vovó Benta
Benzedeira de Aruanda
Com seu galhinho de Arruda
Vem benzer filho de Umbanda….

ESCRAVA ANASTÁCIA

No imaginário popular, a Escrava Anastácia era uma escrava de linda e rara beleza, que chamava atenção de qualquer homem.
Ela era curandeira, ajudava os doentes, e com suas mãos, fazia verdadeiros milagres.
Por se negar a ir para a cama com seu senhor e se manter virgem, apanhou muito e foi sentenciada a usar uma máscara de ferro por toda a vida, sem poder beber e nem comer nada, e ainda sendo espancada, o que a fez durar pouco tempo, tempo esse que sofreu verdadeiros martírios. Quando Anastácia morreu, seu rosto estava todo deformado.
Escrava Anastácia é respeitada e cultuada tanto no Brasil quanto na África.
O autor não deixou seu nome, mas obrigado a quem enviou o texto!
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Vemos que algum algoz fez de tua vida um martírio, violentou tiranicamente a tua mocidade. Vemos também no teu semblante macio, to teu rosto suave e tranqüilo, a paz que os sofrimentos não conseguiram derrubar.
Isso quer dizer: era pura, superior, tanto assim que Deus levou-te para as planuras do Céu e deu-te o poder de fazeres curas, graças e milagres mil.
Anastácia pedimos-te, roga por nós, protege-nos, envolve-nos no teu manto de graça, e com teu olhar bondoso, firme e penetrante afasta de nós todos os males e maldizentes do mundo.
Todas as manhãs antes de sair para o trabalho, olhe para a Anastácia, peça-lhe suas graças, que tudo correrá bem para você.

PAI THOMÉ

Sua história é diferente de outros negros de sua época. Ele viveu no século XIX, no estado do Rio de Janeiro, na cidade de Cabo Frio. Quando ele
nasceu, seus pais ainda eram escravos, mas ele já nasceu pela Lei do Ventre Livre. Então foi afastado de seus pais e teve que mendigar desde
cedo para sobreviver. Aprendeu a pescar e logo tornou-se mercador de peixes. Para se defender dos ataques dos brancos e dos negros mais abastados,
ele aprendeu a lutar a capoeira e a usar o facão como arma. Mas Tomé era amaldiçoado; desde criança ouvia vozes, via almas de pessoas que já morreram e enxergava os dois mundos em constante contraste.
Sua vida era um constante isolamento, por conta de seus fantasmas interiores. Aos poucos muitos espíritos começaram a cercá-lo e a acompanhá-lo. A
todo momento, onde quer que ele fosse, as almas estavam lá acompanhando-o, esperando-o e “azucrinando-o”… Chegou um momento que ele não mais aguentou e pensou em dar cabo da própria vida. Colocou seu facão próximo ao pescoço e ia degolar-se, quando um soldado de vestimentas reais
parou em sua frente e gritou bem altou: “Patakori!” A sua armadura brilhou e ele disse: “- Como ousa, óh escravo, afrontar o teu Pai Ogun, que te tirou da senzala?! Afasta essa faca de ti e vai cumprir tua missão e salvar as almas que te procuram.” E num brado bem alto, ocavaleiro sumiu: “- Jesse, Jesse!”
Tomé caiu por terra e chorou, pois percebeu que São Jorge viera salvá-lo de um ato insano. Voltou ao cais. Pescou seu peixe, assou, matou sua fome e dormiu. Ao amanhecer do dia, procurou uma casa abandonada a beira mar. Reformou a casa, consertou, ajeitou, limpou e fez o que fez. Por fim, foi para o mar e pescou quantos peixes conseguiu pescar. Vendeu todos no mercado. Com o dinheiro comprou uma imagem de Nosso Senhor do
Bonfim e de Nossa Senhora dos Navegantes. Também comprou velas e roupas. E voltou para casa. Ajeitou tudo e colocou uma placa dizendo: “Oração e Benzeduras”. No outro dia, os primeiros raios de sol acolheram uma fila de dez pessoas, que já esperavam por atendimento.
E assim foi que Tomé iniciou seu trabalho de benzedor. Ele trabalhou sem parar por setenta anos… Mas, não viveu só. Um dia, quando já faziam dez anos que Tomé trabalhava, entrou em seu casebre uma moça da Aldeia dos Pescadores, tão acanhada e com medo, que mal levantava a cabeça. Ela se chamava Rosa Maria e, por coincidência, possuía o mesmo dom que Tomé. Tomé tratou dela, que passou a frequentar sua casa e auxiliá-lo nos atendimentos. Os dois se conheceram melhor e passaram a viver juntos. Essa convivência durou sessenta anos. Cumpriram missão e auxiliaram muitas pessoas que necessitavam de ajuda. Bom, assim é o Pai Tomé: sempre alerta e desconfiado, até que conheça bem a intenção do coração do filho…

NEGRINHO DO PASTOREIO

O Negrinho do Pastoreio é uma lenda meio africana meio cristã. Muito contada no final do século antepassado pelos brasileiros que defendiam o fim da escravidão. É muito popular no sul do Brasil. Nos tempos da escravidão, havia um estancieiro malvado com negros e peões. Num dia de inverno, fazia frio de rachar e o fazendeiro mandou que um menino negro de quatorze anos fosse pastorear cavalos e potros que acabara de comprar. No final do tarde, quando o menino voltou, o estancieiro disse que faltava um cavalo baio. Pegou o chicote e deu uma surra tão grande no menino que ele ficou sangrando. “Você vai me dar conta do baio, ou verá o que acontece”, disse o malvado patrão. Aflito, ele foi à procura do animal. Em pouco tempo, achou ele pastando. Laçou-o, mas a corda se partiu e o cavalo fugiu de novo. Na volta à estância, o patrão, ainda mais irritado, espancou o garoto e o amarrou, nu, sobre um formigueiro. No dia seguinte, quando ele foi ver o estado de sua vítima, tomou um susto. O menino estava lá, mas de pé, com a pele lisa, sem nenhuma marca das chicotadas. Ao lado dele, a Virgem Nossa Senhora, e mais adiante o baio e os outros cavalos. O estancieiro se jogou no chão pedindo perdão, mas o negrinho nada respondeu. Apenas beijou a mão da Santa, montou no baio e partiu conduzindo a tropilha. E depois disso, entre os andantes e posteiros, tropeiros, mascates e carreteiros da região, todos davam a notícia, de ter visto passar, como levada em pastoreio, uma tropilha de tordilhos, tocada por um Negrinho, montado em um cavalo baio. Então, muitos acenderam velas e rezaram um Pai-Nosso pela alma do judiado. Daí por diante, quando qualquer cristão perdia uma coisa, o que fosse, pela noite o Negrinho campeava e achava, mas só entregava a quem acendesse uma vela, cuja luz ele levava para pagar a do altar de sua madrinha, a Virgem, Nossa Senhora, que o livrou do cativeiro e deu-lhe uma tropilha, que ele conduz e pastoreia, sem ninguém ver. Desde então e ainda hoje, conduzindo o seu pastoreio, o Negrinho, sarado e risonho, cruza os campos. Ele anda sempre a procura dos objetos perdidos, pondo-os de jeito a serem achados pelos seus donos, quando estes acendem um coto de vela, cuja luz ele leva para o altar da santa que é sua madrinha. Quem perder coisas no campo, deve acender uma vela junto de algum mourão ou sob os ramos das árvores, para o Negrinho do pastoreio e vá lhe dizendo: “Foi por aí que eu perdi. Foi por aí que eu perdi. Foi por aí que eu perdi.”. Se ele não achar, ninguém mais acha.

PAI MARTIM PESCADOR

Martin Pescador,nasceu em Aracajú, viveu sua vida simples como caiçara e pescador,ganhava seu ganha pão como pescador,vivia em uma pequena colônia caiçara de pescadores,desde jovem demonstrava seus dons, ótimo nas suas premonições e intuições,foi ganhando fama junto a sua colônia, e com o passar dos anos foi se dedicando a sua missão na terra,casou-se aos 23 anos,teve 4 filhos, e desencarnou com 68 anos vitima de uma pneumonia,adquirida devido sua condição simples de pescador na terra.
Hoje nos terreiros do Brasil, ele trabalha na linha de yemanjá, e almas, ótimo trabalhador ,trabalha com curas,aconselhamentos e quebra feitiço com a linha das aguás, fuma cigarro,bebe cerveja,ou marafó, e por ser um orixá muito simples aceita o que estiver na ocasião a oferecerem.

PAI JOAQUIM DE ANGOLA

Pai Joaquim De Angola apresenta-se sempre com uma calça branca, sem camisa e com uma guia somente.
Traz na mão esquerda seu cachimbo e na mão direita uma pemba branca.
Falar de Pai Joaquim DAngola não é tarefa fácil.
É maravilhoso poder trabalhar com esta entidade. Sempre que arria, mesmo que para trabalhos rápidos, sempre deixa grandes lições.
Sempre fala com carinho aos consulentes e a outros médiuns, mesmo quando está irritado com suas ações, procedimentos ou quando há algo errado no terreiro.
Quando incorpora, sempre traz uma sensação de alívio muito aconchegante. Sua primeira preocupação é limpar o médium com quem vai trabalhar, mantê-lo equilibrado energeticamente para que este não carregue nada ruim enquanto trabalha.
Sua maneira de trabalho é muito peculiar. Trabalha nas duas bandas e pode virar o trabalho para esquerda sem que qualquer pessoa no terreiro consiga perceber facilmente. Sempre se apresenta com um ótimo senso de humor e procura sempre deixar suas lições de maneira simples e objetiva, para que não fiquem dúvidas com relação ao assunto.
É exímio conhecedor das propriedades medicinais das plantas. Sua especialidade é trabalhar com a saúde.
Pai Joaquim DAngola é chefe de falange e vale a pena frisar que sua falange é enorme. Tem grande influência sobre seus comandados e uma equipe muito grande de Exús a seu serviço.
Pai Joaquim, como muitos Pretos-Velhos, foi trazido ao Brasil na época da escravidão. Era um simples morador de uma aldeia na Angola, hoje chamada de Lobito, quando houve a invasão portuguesa. Os portugueses escravisaram diversos negros que apresentavam um bom estado de saúde para que servissem de escravos do outro lado do Atlântico. Pai Joaquim foi arrancado do seio de sua família, tinha esposa e filhos nesta época.
Um de seus filhos gerou um filho com o nome de Tomáz, seu neto, hoje uma entidade conhecida na Umbanda que apresenta-se com o nome de Pai Tomáz.
Quando Pai Joaquim chegou ao Brasil trabalhou pelo resto da vida em uma fazenda de cana e café na região de Minas Gerais.
Durante sua vida na fazenda, começou a ser chamado de Pai Joaquim pois era o curandeiro da tribo que se formou. Sempre tinha uma maneira de aliviar o sofrimento físico de seus irmãos através do uso de plantas, desenvolvendo chás, ungüentos e emplastros. Era muito hábil em animar seus irmãos com mensagens de carinho e esperança. Sempre tinha uma boa lição para ensinar.
Seus feitos milagrosos com seus irmãos chamaram a atenção dos senhores das fazendas que começaram a levar seus entes para serem tratados por Pai Joaquim. Ele amorosamente os tratava da melhor maneira possível. A notícia de seus feitos estava se disseminando entre as comunidades mais próximas, o que o denotou como curandeiro e, para algumas pessoas da época, simplesmente bruxo, conhecedor das magias dos negros e, nesta época, totalmente condenável pela igreja católica.
Certo dia, uma criança, filha de um dos senhores, foi levada até Pai Joaquim para que fosse tratada de sua enfermidade. Ela apresentava sérios problemas de saúde. No início do tratamento, Pai Joaquim já sabia que ela lhe foi levada tarde demais e que seria quase impossível devolver-lhe a saúde tão esperada.
O senhor, pai da criança, disse que se Pai Joaquim não a curasse de tal enfermidade, ele mesmo trataria de ordenar sua morte e que esta se daria com muito sofrimento.
Pai Joaquim, com todo seu conhecimento não pôde restaurar-lhe a saúde e a criança acabou desencarnando.
Após a dor da perda, o senhor imediatamente ordenou que o velho Joaquim fosse açoitado até a morte, para que dessa maneira todos os outros aprendessem com quem estavam lidando e que não lhe adiantavam quaisquer outros meios de cura se não fosse pela tradicional. Os senhores das fazendas não tolerariam mais os atos de curandeiros, nem negros que detivessem o poder de manipular as magias que só eles conheciam.
Pai Joaquim foi açoitado por um dia inteiro, sem direito à qualquer alimento ou sequer um pouco de água.
Durante sua sessão de tortura, ele chorava e pedia a Deus que lhe levasse, pois a sua dor era insuportável. Não só a dor da carne, mas também a dor de seus sentimentos, donde tanto fez para trazer a paz, alegria e saúde aos que agora açoitavam-lhe sem piedade.
Quanto mais o tempo passava, mais Pai Joaquim odiava tudo o que tinha feito pelo próximo, e o pior, começava a odiar a Deus pelas suas Leis e pelo que lhe tinha reservado à vida.
“Como podia um Deus tão bom e tão justo deixar que façam isso comigo? Eu que sempre zelei pelas suas leis e pelos seus ensinamentos? Eu que fui escravizado e o resto de minha vida fui condenado a trabalhar como um animal de carga? Deixaste-me, ó meu Deus, que me tratassem como um animal, quando o que mais queria era tratar meus semelhantes da forma mais humana, transmitindo-lhes o amor que o Senhor tanto tenta nos ensinar!!! Eu que era só amor agora me transformo em ódio, por tudo que fiz e que mereço agora são chibatadas neste corpo frágil e cansado do trabalho e do tempo!!! Onde estás meu Deus que não me protege nesta hora de minha maior agonia???”
Pai Joaquim deixou o plano terreno ao entardecer, quando a luz do sol já não lhe aquecia mais o corpo.
Viu-se envolto por uma névoa branca. Assustador o que sentia pois ainda levava consigo a dor dos chicotes, a saudade de seus irmãos… o amor pelos seus…
Só e perdido, começou a orar mais uma vez. Percebeu que ninguém lhe chegava, nenhuma alma vinha lhe prestar socorro ou ao menos lhe dizer o que fazer ou para onde ir.
Após um bom tempo de espera angustiosa, irritado com tal situação, começou a esbravejar:
“E agora??? Onde está esse tal Deus que vocês sempre me ensinaram que existe??? Que Deus é esse que simplesmente me deixou quando mais precisei Dele??? Que Deus é esse que ao invés de me ensinar o amor me ensinou a dor??? Que Deus é esse???”
Enquanto esbravejava, notou que não tocava seus pés no chão. Parou de falar por alguns instantes. Olhou para trás e viu que quem o segurava em seus braços era Jesus Cristo, que caminhava em direção ao Pai.
Jesus disse-lhe: “- Tenha calma, meu velho, meu amigo, meu irmão, que sua dor já passou. E pra onde nós estamos indo nunca mais sentirás dor, nunca mais sentirás saudades, nunca mais sentirás solidão e terás a todos que ama ao vosso lado!”
A criança cuja enfermidade não foi possível curar hoje acompanha esse querido Preto-Velho em todos os trabalhos em que participa. Ela somente incorpora em médiuns que apresentam grande afinidade vibratória com Pai Joaquim e que estejam muito equilibrados durante o trabalho. Sua incorporação só é necessária quando determinada pelo Pai Joaquim.
O porque do nome de Pai Joaquim DAngola e o seu chapéu de palha
Pai Joaquim (ou Iquemí) foi um forte guerreiro, filho prometido de uma família real africana, oriunda de Angola, África, para reinar junto ao seu povo.
Iquemí era príncipe majestoso, amava sua liberdade, seus amores, um legítimo filho de Xangô.
Mas entre guerra de brigar pelo poder, Iquemí foi aprisionado por uma tribo inimiga que o entregaram aos mercadores brancos.
Iquemí, o grande guerreiro, príncipe de sua tribo, estava em desespero. Preso como um animal, veio no porão de um navio aos gritos de desespero dos seus inimigos de cor.
O mercador de escravos, dono do navio onde vinha Iquemí, soube do destaque de ter um príncipe entre os outros escravos, observou o seu porte, sua beleza, seus dentes perfeitos e seu corpo musculoso, mas viu nos seus olhos que não se submeteria aos maus tratos em se tornar um escravo.
O mercador de escravos chama-se Manoel Joaquim, nascido em Lisboa, descidiu então ficar com Iquemí na sua fazenda nas terras da Bahia.
Assim Iquemí chegou à Bahia e foi para a fazenda do mercador.
Mas Iquemí não aceitava ser escravo, o mercador se afeiçoou a Iquemí devido a sua valentia, sua força e destaque entre os negros, mal sabia que sobre a luz do espiritismo ambos eram almas afins unidos pelo destino.
Iquemí foi conquistando a amizade do senhor Manoel Joaquim, que só teve um filho que morreu cedo com a peste, gostava de Iquemí como de um filho e um dia lhe disse:
“- Negro, tu não tens um nome, um nome verdadeiro, um nome onde vais ser conhecido, vou pensar como te chamar.”
O mercador adoeceu seriamente, antes de morrer batiza Iquemí de Manoel Joaquim de Luanda, um pedido de Iquemí.
Sua fama correu por terras, envelhecendo se tornou pai de todos, Pai Manoel Joaquim de Luanda ou Pai Joaquim DAngola.
Seu papel na escravidão foi importantíssimo.
Promovia a paz entre seus irmãos de cor. Bondoso, um verdadeiro cristão, Pai Joaquim recebeu sei primeiro chapéu de palha dado por um bispo da igreja local quando sua cabeça já era toda branquinha.
Sofreu muito no cativeiro, mas jamais esqueceu sua grande e velha mão África.
Ao senhor, meu pai e querido amigo com quem tenho o grande prazer de trabalhar, saravá!
Texto de: Eduardo de Ogum, de São Paulo

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

PAI JOÃO

“Saiba, ó filho meu…
Que existiu uma época muito distante, em que o calendário não registrou nos anais da história da terra, um povo entre as diversas raças humanas que passaram, como estrelas espalhadas no firmamento, sábio e culto, filosófico e sonhador…
Sonhavam em retornar ao seu lar sidério, situado entre as estrelas da constelação do Cocheiro…
e por isso, os mais dotados espiritualmente, insistiam em olhar o céu e suspiravam de saudade…”
A lua com seu raio argênteo, espraiava-se sobre as encostas setentrionais daquela região onde hoje se encontra Madagascar, há muitos e milhares de anos…
O homem sagrado bordejava a orla do mar, e em seu caminhar contemplava a imensidão dos astros notívagos e suspirava com seu olhar marejado, as constelações como se quisesse ler no misterioso livro do céu o futuro de seu povo…
Alto e esguio, de compleição delicada, olhos brilhantes e profundos, Nalmyskar, o sacerdote do templo de Obaluaê perscrutava as conjunções do céu para compreender os vaticínios que chegaram através de seus sonhos, com relação aos acontecimentos prestes á desabar sobre seu país…
Com seu cajado na mão direita, permanecia de pé ao som do mar e á luz dos espaços infinitos, e assim permaneceu por longas horas, em contemplação silenciosa…
Revia o sonho e cada parte triste…o povo inteiro seria colocado á prova por desprezar a grande lei de Zambi! E agora os Orixás através de seus sonhos anunciavam a grande tragédia que se abateria sobre todos como remissão dos pecados…
Texto de: Paulo de Tarso, de Juiz de Fora, MG A sabedoria milenar há muito fora deturpada por sacerdotes corrompidos, que se deixaram levar pelos ouropéis e vaidades humanas, patrocinando verdadeiras orgias, descambando para a magia negra… Triste sina de um povo que já foi a aurora de uma civilização grandiosa! Muitos serão banidos, degredados, irão para longe de seus lares, como escravos de uma raça que não tardaria em surgir no horizonte, em busca de conquista e ouro. Famílias inteiras separadas, genocídio, depravação e miséria seria o castigo deste povo orgulhoso e vingativo que ousou contrariar as leis sagradas dos Orixás…a sagrada lei de Zambi! Os grandes e brilhantes olhos do sacerdote derramavam copiosas lágrimas, vertidas de seu coração sincero, pois guardava as leis sagradas e vivia de acordo com os mais altos ensinamentos de sua escola de iniciação. Sabia que voltaria para seu lar sidério, para a sua amada estrela situada na constelação do Cocheiro, mas e o seu povo? Voltaria á vê-los? Aqueles que ficavam, que atraíram para si os olhos enérgicos dos Orixás? Enquanto assim permanecia, não percebeu sublime Entidade postada á seu lado, que lhe observava com profundo amor e carinho. Uma brisa fresca roçou seu rosto magro e escuro como ébano, e uma voz se fez ouvir, como que vinda da distância que ele mesmo contemplava da sua saudosa estrela… “…Nalmyskar! o grande Zambi te abençoa através dos sagrados Orixás! Trago-te a promessa de que, tão logo seu povo sinta o braço pesado e longo do carma, você retornará para cumprir missão junto aos teus mais caros afetos! Numa terra que ainda está por ser descoberta, muito além mar, tu irás voltar para o seio do povo que tanto amas, e assim auxiliá-lo na difícil missão de retornarem aos braços de Zambi, através da dor e do sofrimento. Os Grande Senhores da Umbanda, os Mestres da Luz ouviram tuas preces, abençoado sacerdote, pois que tu guardaste a lei de Zambi em seu coração! Retornarás como Guia de uma futura religião que está para nascer nas terras do Cruzeiro do Sul,e inspirarás com teu exemplo de humildade os teus filhos deserdados… Serás conhecido como Pai João do Congo por muitas gerações que te sucederão ao longo da jornada que ora se inicia em tua experiência íntima, e terás a alegria de ver voltar ao aprisco do amor de Zambi muitos de teus filhos desgarrados, que com teu amor, com tua dedicação e humildade irás inspirar aos dias melhores no futuro… Por agora descansa, prepara teu espírito para as horas amargas que se abaterão, logo que a lua mude seu ciclo, para alertar mais uma vez teu povo das severas lições que lhe aguardam! Paz e Luz, Nalmyskar, abençoado dos Orixás!” Com os olhos marejados, e profundamente emocionado, o velho sacerdote retornou a passos lentos em direção de sua aldeia, enquanto a lua, em seu zênite parecia compartilhar com a tristeza do velho ancião…

PAI JOÃO DE CAMARGO

Missionário negro, compositor, médium, curandeiro também conhecido como médico dos pobres. Nhô João, nasceu no dia 16 de maio de 1858, na fazenda dos Camargo Barros, bairro dos Cocaes em Sarapuí/SP, faleceu no dia 18 de setembro de 1942 na cidade de Sorocaba, filho de Francisca, escrava de Luís de Camargo Barros e de pai incógnito, batizado na Igreja Matriz de Nossa senhora das Dores de Sarapuí. Como escravo cresceu na fazenda em que nascera, herdou o sobrenome da família Camargo Barros, analfabeto não teve acesso à educação institucional, veio para Sorocaba logo após a abolição da Escravatura, 13 de maio de 1888.Trabalhou em Sorocaba como cozinheiro para Manuel Lopes Monteiro, e também para a família de Inácio Pereira da Rocha. Em 1893, alistou-se como soldado voluntário, no batalhão dos Voluntários Paulistas, deu baixa em sua carreira militar em 1895, quando a Revolução Federalista terminou, passou a trabalhar na lavoura em Pilar do Sul, lugar onde conheceu Escolástica do Espírito Santo, sua esposa. Voltou para Sorocaba em meados de 1890, época em que Sorocaba fora atacada pela epidemia de febre amarela o que fez o casal abandonar a cidade e mudar-se para o bairro da Ilha, em Salto de Pirapora. Após cerca de cinco anos de convivência matrimonial vieram a separar-se por incompatibilidade. João de Camargo retornou à Sorocaba para recomeçar a vida, trabalhou em vários empregos para sobreviver desde o campo trabalhando na lavoura a olarias fazendo tijolos e telhas.
Recebera influência na prática de curandeirismo e na religiosidade africana com sua mãe, Nhá Chica, de sua sinhazinha, Ana Teresa de Camargo a iniciação ao catolicismo e do padre João Soares do Amaral os ensinamentos através de seus sermões, pois o conhecera ainda quando era adolescente e lhe tinha em grande admiração, sua religiosidade sincrética formou-se a partir do catolicismo popular, participando nas Festas em devoção aos santos católicos a que se homenageavam na Casa Grande nos dias sagrados, bem como do aprendizado que adquirira com sua mãe.Desde 1897 iniciara-se no caminho do misticismo, acendia velas, rezava ao pé da cruz e já praticava a cura em algumas pessoas. Em 1905 seguindo seu percurso pela Estrada da Água vermelha, cumpria a sua obrigação junto a Cruz do menino Alfredinho, em casa meditando por volta da meia-noite, percebeu que fenômenos estranhos como murmúrios, luzes, ventos entre outros sinais ocorriam a ele, fazendo-o muitas vezes a ser tomado como louco. Entre as vozes que ouvia, a mensagem para que parasse de beber era clara, uma vez que, segundo a voz que lhe falava o álcool o impedia de receber a missão designada, além de lhe estragar o corpo.
Em 1913 foi processado judicialmente acusado de praticar o curandeirismo. Absolvido e para se proteger de perseguições criou em sua Capela a Associação Espírita e Beneficente Capela do Senhor do Bonfim, reconhecida como pessoa jurídica em fevereiro de 1921. Em 1915, fundou a Corporação Musical São Luís, composta por vinte e oito músicos, sendo muitos deles os que animavam os cordões carnavalescos da nossa cidade, visto que apresentavam -se em festas religiosas e profanas. Seus maestros foram Francisco Dimas de Melo, Salvador Elisário, Pancrácio Inocêncio de Campos, e Avelino Soares.Sua fama percorreu o mundo, foram – lhe dedicadas poesias, composições musicais e desenhos. João de Camargo foi tema de várias dissertações de mestrado, biografado por inúmeros escritores, pesquisadores e historiadores entre eles Antônio Francisco Gaspar, Florestan Fernandes, Genésio Machado, Roger Bastide, José Barbosa Prado, Aluísio de Almeida, Paulo Tortello, Rogich Vieira, Prof. Bene Cleto, Al! cir Guedes, Antônio Carlos Guerra da Cunha.Também sobre João de Camargo o jornalista Plínio Cavalcante publicou reportagem na revista semanal O Malho, Rio de Janeiro em 1934 e na Europa o Corriere Dela Sera publicou reportagem em 1922, em 1995 foi publicada sua biografia e um Espetáculo Teatral cujos autores Sônia Castro e Fernando Antonio Lomardo tinham como intenção principal investigar O Homem – João de Camargo. Em 1999 os pesquisadores Carlos de Campos e Adolfo Frioli publicaram o livro “João de Camargo – O nascimento de uma religião de Sorocaba”, sendo o tema principal “o preto velho e bom da Água vermelha” uma vez que, Nhô João foi uma referência de fé popular nesta cidade. Neste mesmo ano o pesquisador Carlos Carvalho Cavalheiro também dedicou-lhe algumas páginas de seu trabalho sobre o Folclore em Sorocaba – Milagres de Nhô João de Camargo.
Após sua morte a Capela Bom Jesus do Bonfim ficou fechada durante cinco anos por questões judiciais, Escolástica do Espírito Santo Maduro, sua ex- mulher apareceu requerendo sua parte no espólio.O túmulo de João de Camargo é uma réplica da Capela Bom Jesus do Bonfim, levantada sob responsabilidade de um de seus devotos, João Massa em 1948. Seu túmulo é visitado por um número incontável de devotos e simpatizantes, principalmente no dia 02 de novembro – Finados .
JOÃO DE CAMARGO BARROS* 05/07/1858– 28/09/1942

PAI JEREMIAS

Com a implantação de fazendas de gado e cultura em solo Brasileiro muitas vezes ou quase sempre sacerdotes do culto Africano chegavam trazidos como escravos pelos navios de contrabandistas que ganhavam a vida destruindo a de outros , entre estes vindos de tão longe e com a missão dada por Oxalá de divulgar sua Religião engrandecendo outras terras com sua sabedoria e bondade.
Entre estes chegava então um jovem que estava predestinado a ensinar amor e sabedoria , ainda menino foi introduzido no trabalho árduo e sem trégua , por sua bondade e sabedoria logo cativou a todos até mesmo seus senhores que percebendo sua condição de tratar com animais feridos ou doentes, solicitavam sempre seus serviços, logo estando este que seria um sacerdote em sua terra , curando e tratando pessoas a pedido de seus senhores ,era ele então tratado diferente em meio a tanta crueldade.Todos eram socorridos por Pai Preto como era chamado pelos brancos.
A fama de pai Preto correu longe em solo brasileiro tanto que chegou sem tardar ao conhecimento dos missionários vindos para catequizar os povos da nova terra , Pai Preto tinha então 85 anos já velho e quase não mais conseguia andar o que não impedia de continuar com suas curas e benzeduras. Mas chegou a ordem e a orientação: Pai Preto era “feiticeiro e deveria morrer como todos de sua época.”
Os seus antigos senhores não tiveram coragem de cumprir a missão e então combinaram de esconder Pai Preto e este ficaria assim até a morte cuidando e claro dos interesses de seus senhores. Mas Pai Preto que nunca soube dizer não ou se intimidar por qualquer perigo não se deteve e continuou com suas mirongas , suas rezas e sua caridade sem fim. Logo a noticia correu , seria um fantasma ou quem sabe ele teria ressuscitado para desafiar quem mandava? Nova ordem chegou: então o “feiticeiro deveria ser desenterrado e sua cabeça arrancada do corpo e enterrada em outro local somente assim o “mal”deixaria de existir.
Aqueles que tentaram esconder Pai Preto agora com medo decidiram matá-lo e cumprir o que lhes foi ordenado, tendo assim aos 86 anos Pai Preto deixado o plano físico para trabalhar com suas mirongas em planos mais elevados.
Hoje nós que aprendemos a amar a Umbanda com toda sua sabedoria aprendemos sempre um pouco com aqueles que deixaram esta grande lição de vida e humildade. Pai Preto é hoje para nós pai Jeremias do Cruzeiro que ao lado de Omulu traz a cura para os sofredores dos dois planos. Pai Jeremias recebeu de Oxossi o direito de trabalhar em sua vibração o que para nós só é motivo de mais felicidade pois como raizeiro e conhecedor das matas levou para o plano espiritual este conhecimento para a bênção dos filhos da terra.
Salve Pai Jeremias Salve todos os Pretos Velhos

PAI JACINTO

Trabalhava numa roça de cana, na prensa de cana, como entendia muito de ervas ajudou a salvar o filho do dono da fazenda, com isso ganhou a gaita da esposa do dono, foi pai de 12 filhos, sempre ia pra baixo de uma arvore tocar sua gaita onde as crianças, inclusive a criança que ele salvou, iam em volta escutar o belo som, que faziam eles dançar pular rir, mas infelizmente o filho do dono da fazenda não queria saber de mais nada alem de estar com seu Velho Salvador, e isso foi gerando ciumes e cada vez mais aumentando seu ódio pelo velho por achar q o Jacinto tinha roubado atenção do filho, até que chegou o ponto de mantar enforcar o Pai Jacinto com sua gaita amarrada nas maos pra dar exemplo que o filho dele tinha q estar perto dele e não dos negros. éssa é a historia do Pai Jacinto de Angola que conheço.

PAI GUINÉ

São muitas as lembranças da minha encarnação como escravo em uma fazenda de café no interior paulista. O som da chibata, os gritos dos feitores que saíam à caça dos escravos fugidos, as amas de leite obrigadas a amamentar os filhos da sinhá. Lembranças pungentes de muito sofrimento. Quando a princesa Izabel assinou a Lei Áurea, eu estava velho e muito doente.
A senzala era o único lugar onde o negro conseguia ser livre. Minha história de vida foi muito triste, mas aprendi muito. O sinhô era um homem muito refinado e não me tratava mal, mas a sinhá era uma mulher muito infeliz. Seu coração cheio de fel não sabia amar. Era temida e detestada. Por muito pouco mandava chicotear os escravos da senzala e o sinhô fazia todas suas vontades. Negrinhos eram afastados das suas mães, velhos escravos iam para o tronco e as escravas caseiras tremiam com as ordens da caprichosa sinhá. Eu não me queixava e jamais cultivei o ódio e a vingança. Alguns escravos odiavam os senhores com todas as forças até à morte. No plano espiritual, continuavam a perseguição perturbando os senhores com a força da magia negra e da vingança. Como é bom ser bom! Como é triste ser mau! Quantas lágrimas e sofrimentos os senhores plantaram através de suas atitudes. No entanto, todos caminharemos para a Eterna Felicidade! O caminho mais sublime é o Amor, mas alguns só evoluem através da Dor!
Eu era forte e jovem, mas quando meu grande amor foi vendido, capricho da sinhá, minha saúde nunca mais foi a mesma. Minha vida mudou bastante e o meu consolo eram as rezas. Jamais cultivei a revolta ou a vingança. Os Orixás me davam a paz e o consolo para suportar as provas daquela encarnação.
Pior que a escravidão os grilhões da maldade e do preconceito. Muito pior que nosso sofrimento era o peso dos pecados daqueles que oprimiam seus irmãos de cor. No dia 13 de maio, a alforria! No entanto, as lembranças marcaram minha vida para sempre. Foi minha encarnação mais proveitosa. Nessa vida de martírios, cultivei a renúncia e a humildade.
Quando desencarnei, meu grande amor estava à minha espera. A linda escrava que eu amei e foi vendida já estava no Plano Espiritual ansiosa pelo meu retorno. Somos todos irmãos! Somos todos iguais!
Muito tempo se passou e agora estou novamente na Terra. Não como espírito encarnado, mas como pai velho trabalhando nos terreiros de Umbanda. Minha vestimenta astral é a de preto velho. Escolhi essa missão para estar mais perto dos meus filhos de fé. Muitos precisam de libertação, da alforria da paz e da fé. Essa é a missão dos pretos velhos! Conselho, resignação, amor e paz! Limpar com a fumaça do cachimbo os miasmas do mal e da doença. Aceitei essa tarefa sublime por muito amar a Humanidade. Conheci o sofrimento, a humilhação e a pobreza.
Minha mensagem é de libertação! Filho de fé liberte-se dos grilhões do orgulho e do egoísmo. Se você está sofrendo, não desanime! Confie no Pai Oxalá que tudo vê e tudo sabe! Faça sua parte no aprimoramento espiritual e na reformulação das suas atitudes. Liberte-se das vibrações negativas do desânimo, da tristeza e do pessimismo. Ame a Terra! Colabore para que esse Planeta melhore cada vez mais e seja um grande Lar de Amor! Liberte-se do peso da angústia através do Amor! Perdoe seus inimigos, porque Oxalá é o exemplo de Perdão e Misericórdia!

PAI FRANCISCO

Francisco foi um negro que nasceu na roça , filho de dois negros trabalahores de fazenda. Francisco cresçeu trabalhando , sofrendo mas sempre com muita fé.
Era homem de postura forte. Francisco sempre ao final da tarde e ao início de toda manhã , rezava para Deus para olhar por ele e por todos os negros. Francisco desencarnou com 85 anos de idade um ano após a libertação dos escravos. Francisco evoluiu e teve um dia a permissão de Deus e da lei maior de encarnar nos médiuns em seus terreiros de origem.
Pai Francisco é um preto velho muito forte , e um pouco brincalhão quando de mereçimento do consulente. Mas sabe muito bem puxar na raiz oque o consulente precisa ouvir, por isso se for falar com ele , deve estar disposto a ouvir os conselhos e no final perceber que tudo oque ele quis passar para o consulente.
É um preto velho que não fala só onde você está errado e pronto não, ele vai dentro do problema ou assunto , e mostra o porque e como aconteçeu aquilo. Suas consultas constumam ser demoradas e fortes , pois ele entra no íntimo do médium. É um preto velho muito humilde e se apegua a coisas muito simples.
Muitos consulentes sentam para conversar com Pai Francisco chorando e depois levantam sorrindo e felizes com a vida. Ele gosta muito de rezar de mãos dados com os consulentes e de conversar. Gosta muito de crianças e de conversar com pessoas idosas como ele. Pai Francisco se caracteriza por só querer quando chega na terra , seu cachimbo , café amargo e só.
Como outros pretos velhos. Ele sempre gosta de dizer que vive na fazendinha dele junto com a “nega véia” dele como ele mesmo diz. Ele sempre nos conta histórias do passado de como era a vida dele na terra. Sempre passando uma palavra de paz e esperança, não é um preto velho que gosta de ser brigão e mandar muito. Gosta muito de brincar e todos os consulentes que vão se consultar tem que dar um sorriso , para alegrar a ele!
Gosta muito de dividir suas bebidas como o vinho com seus consulentes , para agradar a quem conversa com ele. Enfim.. Pai Francisco é um Preto Velho humilde , forte , brincalhão , sério quando preciso e também muito carinhoso. Quem for falar com Pai Francisco , deve estar de coração aberto para seus conselhos e palavras de um verdadeiro Avô e Amigo!

PAI CIPRIANO

Vamos contar um pouquinho desta história… Era o primogênito de uma família abastada e nobre. Herdeiro direto do trono daquela tribo, ainda bem jovem, por volta dos vinte anos, forte, saudável e cheio de vida, fui iniciado nos preceitos e conceitos religiosos do meu povo. Logo estava recebendo o “Decá” (autorização para a prática religiosa da minha tribo de origem). Foi um espanto geral! Ninguém quis acreditar. Como um menino daquele conseguira um encargo tão valoroso? Talvez por ser o filho primogênito do Chefe tribal. A partir da minha consagração as coisas começaram a ficar difíceis, Os demais membros da minha comunidade não mais me dirigiam a palavra. O ambiente foi ficando insuportável. Afastado da convivência com os outros irmãos, sofrendo discriminação e recebendo vibrações de ódio causadas pelo imenso despeito dos meus irmãos, preferi me isolar e me entreguei cada vez mais à prática dos meus ensinamentos religiosos. Num dia em que sozinho clamava aos Orixás por minha tribo, quando pedia a doce Mãe Oxum que suavizasse o coração dos meus irmãos, sofri uma terrível emboscada. E num dia cinzento, chuvoso, dia em que a tribo não participava tão intensamente do trabalho em grupo devido ao tempo, fui arrancado à força de minha maloca e levado para um lugar distante da minha Luanda, minha querida Angola… Indaguei todo tempo o que se passava, reivindicando a minha posição de membro da família real. Mas mesmo assim fui levado por uns homens estranhos que me carregaram à força, sem piedade, como se eu fosse um animal e eles os caçadores implacáveis. Ali começou o meu martírio. Mas dor maior senti ao avistar por perto três dos meus sete irmãos de sangue. Nesse momento me conscientizei da terrível traição que sofri e que deitou uma profunda ferida na minha alma.
Amarrado como um bicho, passei três dias amontoado em cima de uma carroça, onde cada vez mais eram colocados negros em grande número, uns por cima dos outros, como se faz com pele de animais. E assim fiquei, por baixo daquele amontoado de infelizes, faminto e sedento. Desespero maior eu senti ao ser retirado da carroça e jogado no porão imundo de uma grande embarcação. Dali por diante nós nos unimos em preces, dor e saudade na longa viagem ao Brasil, terra distante e desconhecida. Maltratado durante a interminável viagem, assistindo com horror cenas que jamais poderia imaginar, vi meus irmãos de raça e de religião sendo esmagados em sua hombridade; vi humilhação e revolta no olhar dos meus irmãos de destino; vi o açoite cortar impiedosamente a carne daqueles que ousavam manifestar a menor reação de revolta; vi corpos jogados ao mar e a peste se alastrar, ceifando a vida de muitos irmãos. Apesar do horror do navio negreiro consegui chegar com vida nesta terra distante chamada! pelos seus nativos de Brasil. Clamei a Olodumaré por forças, pois pensei que não aguentaria tanta fome e tanto sofrimento dentro daquela embarcação maldita que me obrigava a tomar água salgada, e de barriga inchada deixei nÁfrica distante minha juventude e alegria.
Aqui chegando, fui levado para uma feira, como as batatas compradas hoje por vocês, e vendido, pelos dentes fortes e bons que tinha, para uma rica família fazendeira de café. Dei duro dia e noite, trabalhando duro nos cangais, sofrendo mais humilhação, mais dor. “Nego Véio” era humilde e obediente e tudo fazia para agradar aos senhores brancos. Logo fui recompensado pela docilidade, passando a trabalhar para Sinhá dona como escravo de dentro, “catiço” de Sinhá. Por isso, “Nego” sofreu novamente a inveja dos irmãos de cor, que passaram a maltratar o “Véio” na senzala, acusando o “Véio” de não mais pertencer àquela raiz. Como estavam enganados! Se “Nego Véio” pudesse, tirava todos das correntes do cativeiro. “Nego Véio” era apenas obediente e manso. Rejeitado por meus irmãos catiços, procurei aprender escondido com Sinhá moça, linda e formosa, as primeiras letras. “Nego Véio” esperto, logo aprendeu a ler e a escrever. Com isso, passei a fazer as anotações da fazenda. Conquistei a amizade do Sinhô e também acabei despertando, por isso, a inveja do capataz da fazenda, que era ruim “por demais”. O caminho de espinhos ainda não estava longe dos pés do “Véio”, e o destino prega nos “fio” umas brincadeiras ingratas. Bonito, jovem, agora letrado, fui me enamorar por quem nunca deveria sequer levantar os olhos: Sinhá Moça! Mas foi impossível não me prender aos encantos daquela jovem formosa, de pele rosa, carinhosa e doce como uma flor sem espinhos. Até os dias de hoje, quando me lembro, suspiro. E como Zâmbi não separa os filhos por cor quando traça o seu destino, a jovem Sinhá também se encantou com a doçura do “Nego”. E o que aconteceu vocês já podem imaginar… “Véio” sucumbiu aos encantos da Sinhá e por isso mais uma vez tive o meu destino mexido e remexido. Fui arrancado, numa noite, da minha esteira, levado para um cemitério distante e lá fui abandonado. O feitor me alertou dizendo que dali não poderia mais sair. Que deveria tomar conta de todas as campas, que comesse o que conseguisse plantar e nunca mais aparecesse nem na Casa Grande, nem na senzala. Pois eu traíra a confiança do Sinhô e que ele só não me matava, porque não queria sujar as mãos com o sangue do pai do neto dele. Ali naquele cemitério, isolado e triste, eu vivi até o fim dos meus dias. Distante de quem eu amei, distante do meu povo… Passei a fazer feitiços fortes para o meu povo, que passou a me procurar quando os feitores estavam bravos com eles, quando adoeciam, quando tinham algum problema. Procuravam a minha rega, a minha magia forte. E o sacerdócio recebido na África, acabei exercendo aqui nesta terra, dentro de uma Calunga, onde fui por muitos anos o “Guardião Encarnado”! “Nego Véio” tem consciência de que não sofreu porque era bonzinho. Teve culpa passada e por isso resgatou. Quando retornei à “Pátria Espiritual”, verifiquei que não precisava, se quisesse, reencarnar no planeta Terra. Mas, como a mágoa é péssima companheira e deveria me livrar dela de alguma forma, por misericórdia do Pai a mim foi oferecida a oportunidade de trabalhar na “Lei de Umbanda” para, através da caridade e do amor, depurar esse “tiquinho” de mágoa existente. Certo dia, ao baixar no terreiro, esse “Véio” cantou: “Cipriano Quimbandeiro, chorou no cativeiro. Hoje chora de alegria o Rosário de Maria. Chora, chora, saravando Angola…”

VOVÔ CHIQUINHO

Vovô Chiquinho ou Vô Francisco, é um africano que trabalhava na lavoura de cana de açucar durante a época da escravidão. Devido a idade avançada foi obrigado a parar de trabalhar e ficar trancado durante muitos anos na senzala.
Por causa seu grande conhecimento com ervas e plantas de cura, passou então a cuidar de todos os escravos, escravas e crianças que necessitvam de cuidados. Ajudava também as escravas que estavam em trabalho de parto, a trazer o seus filhos ao mundo e fazia cirurgias aos que necessitavam.
Todas as vezes que os coronéis descobriam isso, amarravam o Vô Chiquinho em um tronco, e batiam nele com chicote, até que ele caisse insanguentado de dor.
Por muito apanhar, teve que começar a ajudar os outros escondido durante a noite, sentado aos pés de um cruzeiro, apenas com o auxilio de uma vela acesa para clarear e de suas plantas e ervas milagrosas.
Um dia, quando benzia as coluna de uma velha senhora que tinha apanhado no tronco, foi pego de surpresa e apanhou com chicote nas costas por seu “sinhozinho”, o coronel.
Indefeso e muito velho, o Vô Francisco infelizmente não suportou a dor e faleceu aos pés do cruzeiro.
Nos dias de hoje, vem em giras de Pretos Velhos na linhagem de Oabaluaê, fazendo o que sempre fez quando vivo, ajuda a todos que o procuram, com fé e devoção, fazendo suas benzedeiras e cirurgias espirituais, e levando palavras de nosso pai Oxalá a todos que necessitam.

PAI CHICO

A História de um Mestre:
Preto Velho Pai Chico nasceu na cidade de Moçambique- África, onde possuia sua esposa. Na época da povoação da América do Norte, mais precisamente nas treze Colonias, Pai Chico fora arrancado de sua terra trazendo consigo sua esposa e a fé em Deus.
Ao chegar na colônia nosso amigo espiritual deparou-se com um intenso martírio. Era forçado a trabalhar sol a sol e tendo como recompensa desprezo e maus tratos. Sua esposa trabalhava na casa grande onde o sinhozinho, acabara forçando-a deitar-se com ele. Na época Pai Chico e sua esposa ja possuiam dois filhos e nascera o filho branco do sinhozinho vindo de uma escrava negra. Não suportando a esta humilhaçao, a esposa do sinhozinho mandou matar a conjuge de Pai Chico. Nosso querido Preto Velho teve que cuidar sozinho de seus filhos além de continuar seu trabalho na lavoura, tarefas que sempre cumpriu, ensinando aos seus amigos escravos a fé em Deus e na crença de dias melhores.
Certo dia pai chico vendo a fome que passavam seus dois meninos de 3 e 4 anos, viu-se obrigado a roubar um pão caseiro para saciar a fome dos mesmos. O capataz da fazenda avistou pai chico roubando um pedaço de pão em cima da mesa da cozinha da casa grande e no mesmo momento cortou-lhe a mão direita.
Como se já não bastasse o capataz mandou que Pai Chico capinasse o campo atraz da casa grande mesmo sofrendo com as dores da amputação. Pai Chico em sua humildade aceitou a tarefa e a cumpriu com fervor. Passado-se alguns dias Pai Chico resolveu acostar-se em uma tapera onde casualmente o capataz e o senhozinho conversavam assuntos importantes. O dono da fazenda acreditando que Pai Chico estaria ali para ouvir as conversar ordenou que cortasem tambem a orelha direita de nosso amigo.
Os filhos de pai chico em um dia de intenso calor resolveram banharse no rio que era de banho exclusivo daqueles que possuiam sangue nobre. Uma das filhas do senhozinho avistou os negrinhos faceiros brincando na água e considerou isso um insulto. O capataz para satisfazer o égo da sinhazinha, afogou-os até a morte. Pai Chico que trabalhava a beira do rio teve a infelicidade de avistar os corpos de seus filhos a boiar rio a baixo.
Os ferimentos de pai chico sangraram durante sete anos e nem a perda de sua familia fez com que este ser perdese a fé em JESUS CRISTO.
Pai Chico faleceu ao cento e um anos, todos dedicados ao culto do amor e da caridade e sempre nos ensinou: DEVEMOS AMARMOS UNS AOS OUTROS ASSIM COMO DEUS NOS AMA,AS DIFICULDADES SÃO PASSAGEIRAS MAS A FÉ E O AMOR SÃO AS ÚNICAS FORMAS DE SERMOS FELIZES.
Hoje Pai Chico tornou-se um guia de luz e trabalha em nossa querida umbanda para o bem de todos nós.

PAI BERNARDINHO

Filhos de escravos mas nascido ja no Brasil, Pai Bernadinho era um negro muito conhecido na época cum suas feitiçarias e trabalhos espirituais.pai bernadino hoje muito pouco conhecido na umbanda pois ele vem como um negro quimbandeiro vem na linha de iorima.
Fuma paieiro e bebe marafo vem em terra para aconcelhar e curar aqueles que por seu nome chama. Pai bernadino hoje vem como pari Bernadino das Almas esse velho trabalha com os elementos naturais. Sempre costuma dizer que quem tem fé tem tudo, quem não tem fé não tem nada, faça por merecer.

PAI BENEDITO

Seu nome foi José Benedito, desencarnou aos 90 anos de idade, nasceu na Guiné (Oceania), foi levado para a África negra por negreiros.
Um dia, quando ainda era criança, perdeu-se de sua aldeia, e foi encontrado por um velho aborígine, que antes de levá-lo para o seu povoado ficou com ele por um período de 3 meses, nos quais o aborígine procurou ensinar suas crenças a ele.
Mas José Benedito já possuía suas crenças, por isso não acreditou muito no que o aborígine lhe falou. Ao voltar para sua aldeia, ele deparou com vários negreiros, que o levaram juntamente com seu pai para o mercado da África.
Dentro do navio ele era um dos mais jovens, contava com 10 anos. O navio, que comportava 700 pessoas, tinha mais de 1500, onde todos faziam suas necessidades fisiológicas ali mesmo, onde estavam presos. Isto ocasionava muitas doenças, além das transmitidas por ratos. Durante a viagem muitos foram morrendo, e os que estavam feridos, os negreiros jogavam água com sal sobre as feridas.
Durante a noite jogavam água com sal aonde os negros ficavam, por acharem que isso desinfetava o local, e de dia abriam as portinholas para que a luz do sol entrasse. Os negreiros queriam evitar as mortes, pois isso lhes causava prejuízos. Seu pai contraiu uma virose e veio a falecer, sendo seu corpo jogado ao mar.
Logo após a morte de seu pai, veio-lhe a primeira provação de fé. Sentia-se mal e sabia que tinha adquirido alguma doença, por causa da lavagem que lhes serviam. Surgiu-lhe então, a imagem do aborígine. Era tão real que ele chegou a ter certeza de que não era sonho, pois ele falava com o aborígine. Este lhe disse para parar de beber a água e de comer a lavagem que lhes davam. Ao invés, ele deveria pegar a alfafa já quase apodrecida que estava forrando o chão, e lavá-la com a água do mar que jogavam lá dentro todos os dias.
Assim o fez.
Após uma viagem de mais de 40 dias, ele finalmente chegou no continente africano, para posteriormente ser levado ao Brasil. Mas houve um atraso no negreiro, que durou cerca de 6 anos. Nesse período, trabalhando como escravo, ele entrou em contato com outras culturas, ou seja, escravos provindos de outros países.
Uma das pessoas que conheceu foi um angolano chamado Zimzumba, que era curandeiro e feiticeiro da nação nagô. Zimzumba ensinou-lhe a ler e ensinou-lhe a magia, e disse-lhe em uma de suas visões de que nada lhe adiantaria fugir, porque seria escravo por toda a sua vida, que iria ensinar a muitos negros como ser forte e lutar por seus ideais, e que viria a não mais escutar a voz das pessoas.
A princípio não entendeu, mas acreditou, lembrando-se de como o aborígine havia lhe ajudado. Após esse período de 6 anos foi levado ao Brasil Colônia, em uma viagem de mais de 30 dias. Aportou em Parati e foi vendido em um leilão ao Sr. Patrocínio e a Sra. Joaquina, que moravam em uma fazenda no interior de São Paulo. Lá chegando conheceu o único amor de sua vida, Maria Benedita, que hoje trabalha na linha da Vovó Conga.
Passaram-se vários anos, e ele, insatisfeito com a vida que levava, viu novamente, em uma noite de lua cheia, o aborígine. Este he pediu que entrasse em contato com a cultura daquele país. Fazendo isso, teve o primeiro contato com o que seriam os Orixás.
Longe de suas crenças, e já crendo no aborígine, começou a se aprofundar nesse culto afro-brasileiro, onde acabou por casar-se com Maria Benedita. Sendo ela mucama da casa grande, pois sabia ler e escrever, conseguiu junto a seus donos que ele fosse trabalhar lá. Importante notar que seus donos gostavam muito de ambos, mas sendo ele um tanto bisbilhoteiro, acabou descobrindo uma tramóia contra o Sr. Patrocínio, urdido por seus filhos para tomarem posse das terras. Um deles, ao descobrir que José Benedito havia descoberto tudo, mandou-o de volta para a senzala, e ordenou que lhe furassem os dois ouvidos. Foi aí que começou a sua caminhada de fé. Começou a acreditar de verdade na força espiritual dos Orixás, e passou a freqüentar mais os cultos. Nesse período conheceu quem seria seu maior carrasco. Como castigo por ter tentado avisar o Sr. Patrocínio, ele facilitou minha fuga para então me matar, mas durante a fuga surgiu uma luz forte que cegou a ele e ao capitão-do-mato, não conseguindo ele seu intento. Levou-me então de volta e permaneci vários dias no tronco, sendo chicoteado diariamente.
Mas algo lhe fazia ter forças para viver, e sabia que alguém cuidava dele.
Quando Maria Benedita veio lhe dar água, disse-lhe que estava grávida. Após alguns meses nascia José Benedito de Angola, seu único filho. Não satisfeito, o filho do Sr. José Patrocínio vendeu Maria Benedita, desagradando a Sra. Joaquina.
Seu filho ficou sendo cuidado por uma outra escrava. José Benedito revoltou-se sendo novamente amarrado ao tronco. Surgiu então diante dele a figura de uma mulher, dizendo-lhe que iria conseguir trazer Maria Benedita de volta, e de que nada adiantaria ele pegar a criança e fugir, que sua missão era ali. Ela falou-me que sairia dali e traria Maria Benedita, e voltaria ao tronco por mais alguns dias. Duvidou, mas o aborígine apareceu-lhe e disse-lhe para acreditar, pois já havia tido muitas provas.
Surgiu diante dele um homem em um cavalo branco e em seguida ele adormeceu. Quando acordou Maria Benedita estava de volta à fazenda. O capitão-do-mato passou a temê-lo, chamando-o de feiticeiro. Passou então a seguir o culto dos negros de longe, e maltratando-os menos. Passaram-se anos. Maria Benedita desencarnou antes dele, e seu filho morreu de uma doença desconhecida. José Benedito passou todos os seus conhecimentos para as gerações seguintes.
Quando desencarnou encontrou-se com o aborígine, que era seu Mentor Espiritual. Uma de suas missões era fazer com que alguém que tivesse feito muito mal às pessoas, acreditasse que poderia trabalhar no astral, ajudando a muitos. Essa pessoa foi o capitão-do-mato, que ao desencarnar foi doutrinado por Pai Benedito, e que atualmente trabalham juntos com o mesmo médium, na linha de Boiadeiro.
O principal material utilizado por Pai Benedito é um chapéu de palha, onde ele faz as suas mandingas.
Trabalha também com ervas, utilizadas para cura.
Dependendo para o que for o trabalho, pode ser colocado em mata, cachoeira, mar, trilho de trem, encruzilhada, cemitério, enfim qualquer lugar, pois ele passou por todos.

PAI BENEDITO DAS ALMAS

É Pai Benedito das Almas, preto velho mirongueiro!
Existe 7 linhas das Almas para esse preto velho…
Ele foi filho de uma escrava com um branco (um feitor), não era nem negro e nem branco (o que o fazia sofrer discriminação por ambas as partes) e nem tão velho por isso ele anda pouco curvado ,até porque sua linhagem de trabalho é a quimbanda, magia pesada.
Ele cresceu sofrendo muito porque tinha preconceito do branco e dos seus irmãos negros, foi um escravo reprodutor por ser muito forte. Logo depois de alguns acontecimentos como a morte de um feitor foi levado ao tronco e colocado para trabalhar na lavoura, sendo que quando foi à senzala logo adquiriu muito respeito dos seus irmãos, pois começou a curar e ajudar em fugas porque desde pequeno era amante das magias as quais aprendeu com um velho chamado Pai Barnabé que o ensinou desde pequenino a magia como também a luta dos negros (a capoeira).
Desencarnou mais ou menos aos 80 anos de idade, depois de enfrentar o senhor e seus feitores; demorou 45 dias para morrer: sem comer ou beber nada, o senhor da fazenda ficou receioso pelo fato dele não morrer de fome ou sede.
A sua raiva pelo branco o levou na espiritualidade a chefiar grandes falanges de escravos para se vingar do branco..sendo q foi arrebanhado por Barnabé ao trabalho de umbanda e logo percebeu q sem caridade não há salvação e também adquiriu grande respeito, onde ainda vai em umbrais e lugares muito pesados ajudando os espíritos perdidos e guiando a lugares melhores.
É um preto velho de muito conhecimento e poder dado por Deus e por seus conhecimentos antigos e curadores… é um rascunho da grande história q esse velho tem e conta para seus filhos de fé que são muitos.

PAI BAIANO

(Pai Baiano das Almas) Ele foi filho de escravo, quando seus pais morreram ele foi criado por um padre, e trabalhando como coveiro vivendo assim dentro do cemitério limpando e cavando as covas, temido por uns pois tinha um aspécto nao muito bonito, como tinha muitas visões começou a ajudar as pessoas que ali choravam pelos seus entes queridos, e até mesmo fazendo curas, teve uma reviravolta na época pois o padre que cuidava dele proibia dele ter estas visões e mesmo curar as pessoas, quando ele morreu foi enterrado embaixo de uma igreja na bahia. e ainda hj faz suas curas e rezas como entidade de luz que é.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

O banquinho do velho - Trecho 18

"Já que você deu licença pra esse negro falar..."
- Anda engasgado fio? Que é esse nó no peito que suncê tem? 
- Cansaço vô. De lutas em vão. Parece que minha ansiedade em ajudar só atrapalha. Parece que ninguém entende meu cansaço. Sobrecarregado.
- E resolveu o que negro velho disse? Sobre a religião? Suncê tá feliz ou é mais uma coisa pra obrigação? Por obrigação ninguém é feliz fio. Negro velho já disse que suncê num tá de passagem. Veio pra ajudar. E pra ajudar num se deve seguir ninguém às vezes. É um caminho solitário. Muito povo à fingir que ajuda, só atrapalha.
- Tenho que seguir regras, normas, mesmo sendo contra e achando tudo errado.
- Então suncê é hoje o que negro velho foi fio meu: escravo. De outro jeito. Mas a chibata da mente corrói a alma. Nenhuma luta é em vão fio. Mas suncê veio pra lutar, guerrear contra as injustiça. E tá acorrentado pelo pensamento dos outro. Sofre e peito dói. Negro velho tá vendo e sente junto tua dor. Quanto tempo faz que o fio num serve um cafezinho pro velho? Tá sem rumo até pra prosear.
- Como é difícil ser a gente mesmo em um mundo cheio de gente que sabe tudo vô.
- Fio meu. Se fosse fácil num tinha valor. O que é difícil fica fácil. Lembra do que eu falo pra suncê.
- Tento explicar, falar. Sei que me ouvem só pra não me deixarem falando sozinho. Digo que as coisas vão no caminho errado e ninguém me ouve. Mostro outro caminho e ninguém me ouve. Tento reunir pessoas e ninguém me ouve. Haverá um tempo de paz vô? Haverá quem me escute?
- Fio: primeiro suncê crê, com fé. Depois suncê faz sem esperar nada nem ninguém. E depois de tudo feito, o povo vem. O povo acredita no que vê e não no que crê. Se perdeu a fé. Se pé dói o povo para de caminhar. O povo não quer mais ter trabalho. Caminhar na luz dói às vista e na escuridão dormem no costume. O que acostuma é o que acaba com o povo. Levanta fio. Descansa no tempo do velho. Que velho te acompanha na caminhada num é pra descansar. Respira, toma um gole com o velho. Firma no apoiador e vem com eu.
- Sempre que me perco o senhor vem e me firma. E eu ingrato que sou, esqueço até do agradinho do senhor.
- Quero te ver bem fio. Calmo. Esse desespero seu num leva a lugar nenhum. Só atrai o que num presta. Quem for pra tá te rodeando já tá. Pra ser feliz basta ser feliz. Se esperar alguém trazer num pote, vai que o pote quebra no caminho.
- Gratidão vô. Te amo tá?
- E o velho tá aqui porquê sempre te amou. Antes mesmo de suncê vir pra essa tempada na terra. Saravá fio meu.